A vida imita a arte e vice versa

A vida imita a arte e vice versa

A vida imita a arte e isso a gente sempre vê em filmes, novelas, livros e imprensa. Isso está retratado, por exemplo, nos últimos acontecimentos envolvendo garimpos ilegais na amazõnia.

Dois traficantes apontados pela Polícia Federal como chefes de organizações criminosas ganharam o direito de explorar uma área de mais de 810 hectares de garimpos de ouro na Amazônia – o equivalente a cerca de 800 campos de futebol.

Em busca de ouro: Barcos de garimpeiros ilegais começam a se dispersar do Rio Madeira, no Amazonas

Principal alvo da Operação Narcos Gold, deflagrada no início do mês, Heverton Soares, o “compadre Grota”, aparece nos registros do governo federal como detentor de 18 permissões de lavras garimpeiras, as chamadas PLGs, que abrangem um terreno de 762 hectares. Já nos registros da polícia, Grota é acusado de ser um dos principais representantes do que a PF chama de “narcogarimpo” – ele responde a processos na Justiça do Maranhão, Rondônia e São Paulo por tráfico de drogas, organização criminosa, lavagem de dinheiro e homicídio e é suspeito de ter ligações com duas facções criminosas do Sudeste.

A vida imita a arte

O livro “O fio da meada: uma fronteira entre o bem e o mal” é um obra de ficção, um romance policial, escrito entre 2010 e 2014 e publicado recentemente em versão digital e impressa.

E se a vida imita a arte, o autor, professor Orlando Rodrigues, ao escrever a história, praticamente previu o que ocorre hoje em garimpos ilegais  pelo Brasil, além de apontar uma série de ramificações, ligadas a milícias e tráfico de drogas.

Um spoiler para aquecer,

Segue trechos do livro que fazem ligação com a realidade atual:

“—Estou propenso a facilitar uma rendição.
Tanto meu nome, quanto o seu já estão na mira da
polícia como líderes da organização. Se formos
presos isso poderia acalmá-los.
—E aí passamos a comandar tudo de dentro
da prisão. Simão emendou, servindo-se de mais uma
taça de vinho.
—Exatamente! Você passaria a comandar.
—Eu, somente? Simão fez a pergunta, já
tentando adivinhar a resposta.
—Como lhe disse, questões de ordem pessoal
me fizeram mudar alguns planos. Meu país,
diferente do seu, está passando por momentos
difíceis e penso que chegou o momento de colaborar
mais com meus patrícios e as causas de meu povo.
Viajo para o Líbano na próxima semana e me integro
aos grupos de oposição ao governo de Israel.
Simão já pressentira que Abdul tomaria esse
tipo de decisão. As notícias sobre os conflitos no
Oriente Médio não cessavam na mídia, assim como
as notícias de corrupção e violência urbana, no Brasil.
“Cada um com sua guerra. A do Brasil não lhe
pertencia”, pensava.
—De agora em diante todo o esquema ligado
à comercialização de pedras, ouro e prata só diz
respeito a você. As ramificações ligadas ao tráfico de
drogas ficam a seu critério continuar ou não
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explorando. Tem muita gente na parada, você é
quem sabe.
— E as armas? Simão perguntou com
curiosidade.
—Dessas eu não abro mão. Tenho tudo sobre
meu controle e todos os canais de que preciso.
—Veja se entendi. Você está abrindo mão de
toda a participação nos negócios feitos no Brasil,
envolvendo minérios e entorpecentes e passando
para meu controle?
—Não estou abrindo mão. Só estou passando
o comando agora. Está começando uma guerra que
não é minha. Nossa organização está ligada a uma
grande rede internacional. Tudo está interligado,
mas cada país tem suas características e suas
próprias guerras internas. Faça tudo da forma que
achar melhor. O poder está em suas mãos. Você já
conhece todos os atalhos políticos para obter ainda
mais poder. Faça valer os seus argumentos. Você
sempre nos falou sobre os benefícios que nossos
negócios geram para comunidades tidas com
excluídas. Movimentamos milhões, geramos
emprego e renda para muitas comunidades não
assistidas pelos poderes legalmente instituídos.
Somos um poder paralelo, capaz de desestabilizar o
estado. Portanto, chegou sua vez de colocar seu
discurso em prática. Essa guerra te pertence.”

Saiba mais sobre a reportagem: Piloto de Beira-Mar e alvo de Narcos Gold têm licença do governo para garimpar o equivalente a 800 campos de futebol na Amazônia – Jornal O Globo

Saiba mais sobre o livro o fio da meada, clicando aqui.

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